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… ou duas capas do mesmo livro, já que vamos falar de livros. Pelo menos,
para já.
Conheço pessoas que não gostam de ler, ou mais bem colocado para não ser
completamente injusta, conheço pessoas que gostam de ler, apenas, determinado género
de livros (ponto).
Eu gosto de ler e como eu há milhares de pessoas e outros milhares que
ainda gostam de ler mais do que eu. Mas, a ideia aqui, é que eu gosto de ler e
como tal, leio vários géneros de livros. Posso ter, e é óbvio que tenho, um
género favorito, mas isso não me impede de ler outros. Posso até dizer que a
idade me ajudou a perceber alguns “gostos” que noutra altura não acreditaria
ser possível.
Houve uma determinada altura em que nas minhas leituras predominava o género
ficção policial/ação e aventura e muito ocasionalmente fantasia, mas esta,
sujeita a muitos requisitos. Atualmente acrescentei a essa curta lista de preferências
no género não ficção, História, Humanidades e Ciências Sociais, entre outros. Continuo a preferir ficção policial, mas não faço dela o meu foco diário. Para
esse foco está reservada outra leitura que me ocupa, desde sempre.
As pessoas de que falo, que não gostam de ler, aqui e agora vão ser representadas
pelas pessoas que gostam de ler um género: ficção/fantasia romântica.
Porque é importante, para esta texto, indicar este género? Porque ao ler
esse género, o leitor deixa-se envolver por uma realidade que de real não tem
nada e passa a perder o interesse por tudo o que é a verdadeira realidade.
Começam a ler esses livros, deslumbram-se com tudo o que é descrito (é
muito bom o trabalho narrativo do autor), os cenários deslumbrantes, os personagens
glamorosos e poderosos e, por causa dessas razões a narrativa de um romance de
ficção ou não-ficção com uma ação “normal” e pessoas “normais” por muito bem
escrito que esteja, não as consegue interessar.
Em um dos seus muitos escritos, Ellen G.White (1827-1915), uma escritora
morte americana de não ficção de religião e espiritualidade, diz que é muito
difícil para quem tem os sentidos embotados por esse tipo de leitura, encontrar
algum interesse na leitura da Bíblia.
Concordo, e, uma vez que faço da leitura da Bíblia o meu foco diário, por
vezes, confesso, evito ler certas “coisas” que de alguma forma me possam
afastar dele ou me possam levar a perder a concentração no que leio, porque
pode não ser deslumbrante e glamoroso. Mas, um dia destes, percebi que se a
prioridade da nossa vida estiver bem definida, nada nos afastará dela.
Vejamos, como cheguei a essa conclusão brilhante, se me permito ser imodesta.
Se eu tenho como prioridade na minha vida Deus, terei, como prioridade,
entre as leituras que faço, a Bíblia. Mas como sou um dos milhares de pessoas
que gostam de ler, não leio apenas a Bíblia. E até leio ficção. E “descobri”
que ao contrário do que receava, não me afastam do foco prioritário e de alguma
forma, me direcionam para ele.
Há alguns anos, quando tinha mais tempo disponível (ou pelo menos o sabia
gerir melhor) escrever contos era um dos passatempos que mais gostava. O facto
de não ter telemóvel com as redes sociais e afins à mão, como agora, criava a
necessidade de ocupar o tempo de outra forma, muito mais saudável, mais eficaz
e mais produtiva. Confirmei isso, ontem quando esqueci o telemóvel no emprego e
comecei a escrever este texto.
Retomando o assunto dos contos, posso dizer que os havia de não ficção e de
ficção, dependendo do tipo de ação ou de personagem a que pretendia dar “vida”,
pois quer uma quer outro eram estudados e criados com determinada intenção e
viviam na minha imaginação até estarem prontos para fazerem parte de alguma
narrativa. É por isso, que ainda hoje, anos após os “conheço” e em alguns
momentos me dão saudades. É de loucos? Não. Diria que é um mal saudável de que
sofrem todos os autores. E com isto não estou a dizer que sou uma autora, mas é
para que entendam.
Posto isto, apeteceu-me reler um desses contos, especialmente focada em
determinados momentos da narrativa/ação, que implicavam desabafos, memórias,
tomadas de decisão que demonstravam os porquês de determinado personagem aos olhos
do autor e do leitor, ser visto como importante, cativante, poderoso, desejável
e quase, quase inalcançável, apesar de tão próximo.
Terminei a leitura, tentando não perder muito tempo a pensar no que lera e
a dada altura, como um baque, dei conta de que queria ir ler a Bíblia. Queria
ir ler sobre o personagem mais importante, mais cativante, mais poderoso, mais
desejável e que apesar de inalcançável está tão perto de nós!
Gostei de reler sobre os meus personagens de ficção e fiquei deslumbrada
porque quis ler mais sobre Cristo. Quis mais de Cristo, não deles!
E aqui, chegamos às duas faces da mesma moeda e afinal já não estamos a falar
de livros, embora possamos usar o termo uma vez ou outra.
Quando uma pessoa respira ideias ou personagens com as caraterísticas
acima, vagamente listadas, pouco interesse vai ter em ler livros que nos falam de
uma pessoa “normal” que viveu uma vida “normal” e que apesar de todos os milagres
sofreu, humilhou-se e deixou-se matar numa cruz como um vulgar criminoso. Onde
se encontra o poder, a importância, o deslumbre?
E isto, leva-me à conclusão, não será só a mim com certeza, de que Cristo
deve ser apresentado, em primeira instância, de uma maneira para uns e de outra
maneira, para outros. Por exemplo, numa conversa com uma dessas pessoas que
respira esse tipo de ficção, não posso introduzir Cristo dizendo que Ele se fez
homem, se fez servo, nesta Terra. Devo começar pelo Seu Poder no Céu, pela Sua
Transcendência e só depois lhe falarei do Plano…
É exatamente o mesmo, quando se fala do amor de Deus e da Sua justiça.
Ambos são atributos do Seu caráter não se podendo falar de um esquecendo o outro,
mas há pessoas que reagem melhor e são mais acessíveis a uma conversa sobre o
amor de Deus e outras a uma conversa sobre a Sua justiça.
Se uma pessoa tiver mais interesse sobre narrativas, escritas ou faladas, que
falam do Poder e da Justiça ministrada por Quem é Poderoso, escutará com mais
interesse quando se fala de um Ser que é Omnisciente, Omnipotente e
Omnipresente, que é Senhor do Universo e que julgará todas as nações e lhes
dará a terrível recompensa, que a Sua Soberania lhe concede o direito de
aplicar porque é Senhor e Criador de tudo. E isso traz segurança.
Quando, a essa pessoa, for dito que a par desses atributos Deus é amor e
que foi por amor que Se tornou um de nós para nos salvar e que apesar de ter
morrido em um momento, nunca deixou de ser Justo e Soberano, ela receberá mais
esse encanto e vai interessar-se mais ainda.
E, vice-versa. Se nos apaixonamos por Quem tanto amou assim, receberemos sem
nenhum temor ou incerteza, um Deus que faz juízo e é Todo-Poderoso, porque sabemos
que Ele nos ama.
Ele é, assim, Importante, Cativante, Poderoso, Desejável e, apesar de Inalcançável
vive em nós.
Uma moeda tem de ter duas faces, diferentes, mas que a completam e a tornam
numa moeda válida, tal como um livro pode ter duas capas e tal como nós podemos
usar a que mais nos cativa, em dado momento, sem esquecermos que a outra também
faz parte dele.
E este texto, afinal, nunca foi
sobre livros ou sobre moedas.